E calei os silêncios.

“O silêncio é um veículo ainda mais eficaz para a presença. Por isso, quando ler isto ou me ouvir falar, repare no silêncio que existe entre as palavras e por trás delas. Repare nos intervalos. Escutar o silêncio, onde quer que esteja, é uma maneira fácil e directa de se tornar presente. Mesmo que haja barulho, há sempre algum silêncio por trás dos sons e entre eles..”

O PODER DO AGORA – ECKHART TOLLE 

Certa noite,
descia eu apressado,
o lado varrido da minha rua.
Olhava distante
pró tempo e pró modo,
pró nada e pró todo
de tanto fazer.
Deparei, assustado,
um homem dormindo.
Com um amargo de boca
calei e parti.
Deixei uns trocados
e passei ao largo.

Não há muito,
um amigo do peito
voltava feliz.
E nesse monte de gente,
contente
ele era a vedeta.
No capricho remoto
de expandir
a minha lista de desejos,
com um amargo de boca
calei e parti.
Deixei uns trocados
e passei ao largo.

Não sei quando,
mas sei bem a razão
do como e porquê,
a crise apertou.
Sabendo
o que sei e não posso,
o que posso e não quero,
encolhi o querer.
Vi gente a tinir. Vi gente a tolher.
Com um amargo de boca
calei e parti.
Deixei uns trocados
e passei ao largo.

E naquela
bendita manhã
que acordei
dum sonho importuno,
jurei-me sem peias
guardar os trocados,
calar os silêncios
e gritar a toda a gente
que amar é urgente.

E tu, meu amigo?
Que esperas?
Anda daí.
Vem calar os silêncios comigo.

Assinatura do autor Manuel Paulo