Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

S. Paulo – Coríntios, 13

Lancei pontes

Miríades de letras
que tombam num livro,
esvoaçando,
não fabricam poesia.

Lançar mão
a ditongos, vogais,
consoantes agarrados no ar,
ajeitando-os no papel
como quem arruma
as meias na gaveta,
é como o eco dum sino
de ricochete na montanha,
não mais que um desassossego
que conduz à solidão.

Oh! De quantas letras me servi já
para entreter vazios,
esconder preconceitos,
assobiar para o lado
simulando preceitos.

Oh! De quantas outras
alcancei no ar as letras certas
na hora certa em que te olhei,
em jeito de ligar
ao belo que há em ti.

Que talvez sem notares,
tais letras, vogais, consoantes
que colocas
no que escreves,
no que falas,
mas também no que sentes,
no que crês e no que ris,
são pontes para a outra margem.
E vai por aí
que é do lado de lá o teu lugar.

 

Assinatura do autor Manuel Paulo