Sobre o Poeta
Num tempo em que a poesia procura desesperadamente a novidade, nem que seja à custa do hermetismo da palavra, da figura arrojada, do “non sens”, da violência do verbo, a poesia de Manuel Paulo é um rio de águas transparentes em que o leitor mais descuidado vê retratados os seus anseios, se depara com as suas angústias, percebe como é importante sonhar para se realizar como homem.
Isabel Bruma, excerto do prefácio de Ponto Final
E agora?
Cada dia, desfolhando notícias
de males, desditas e tormentas,
arrojos, partilhas e heróis,
converto medos, angústias, incertezas, no conhecimento profundo do caminho percorrido, para onde vamos,
do que és, como és e no que sou.
E nesta caminhada para um outro mundo onde não posso levar comigo o que sei,
deposito em cada dessa multidão, no desassossego da apatia e da distância
sem abraços, nem números,
nem notícias de abertura,
mas nos afetos, na meiguice, na ternura, a arte e o saber da esperança.
Sempre. Sempre.
Com o teu espírito aberto.
E o meu coração em paz.
Sem mais.
Tal qual sou. Um punhado de ilusões.
Uma mão cheia de fantasia.
Um balouçar
entre o tédio e a alegria,
entre o dever e a utopia,
entre a farsa e a euforia.
Com muito trambolhão
à mistura e também
alguma sabedoria.
— Excerto de Auto-Retrato em “Ponto Final“