Poeta é certo mas de cetineta
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
marciso de lombardas e repolhos.
Cozido à portuguesa mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento ambas partes
do meu caldo entornado na infância.
Nos olhos uma folha de hortelã
que é verde como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.
Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.
Ary dos Santos, como era conhecido no meio literário e social, nasceu em 07 de dezembro de 1937 oriundo duma família burguesa. Após uma primeira publicação aos catorze anos, é em 1954 que se revelam as suas qualidades poéticas vendo os seus temas integrarem a Antologia do Prémio Almeida Garrett.
Passando aa viver sozinho, é forçado a exercer múltiplas atividades para seu sustento, tais como.a venda de máquinas para pastilhas elásticas até material de publicidade. Foi em 1963, com a publicação do livro de poemas “A Liturgia do Sangue” que que se projeta com poeta de referência. Tornou-se particularmente conhecido ao ver os seus poemas “Desfolhada” e ” Tourada” vencerem Festivais da Canção da RTP.
Inicia-se em 1969 na atividade política com a filiação no PCP, participando de forma ativa nas sessões de poesia do então intitulado “canto livre perseguido”. À data da sua morte em 18 de janeiro de 1984 tinha em preparação dois livros: As Palavras das Cantigas e Estrada da Luz – Rua da Saudade.