Em busca da terra dos benditos

Martin Luther King afirmava num dos seus discursos:
O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons
.

Quantas incertezas, hesitações e utopias
já passaram por ti?
E quantas promessas de mudares?
Quanta vontade de mudar o Mundo?
E quantos sucessos? E quantos falhanços?
E quantos desencantos?

Tudo isto já te aconteceu?
Olha que a mim tabém.

Daquela vez jurei para mim.

Nem mais um sonho.
Nem mais um passo.
Nem mais um gesto.

Chega de protesto.

Não mais semearei
uma flor no meu jardim.

A partir de hoje,
vou só cuidar de mim.

Vou pôr na prateleira
todo o desejo,
toda a canseira,
toda a ternura
de manter acesa
a chama da lareira.

Darei por cada asneira
um grito de triunfo,
por cada utopia
um riso de desdém.

Vou infestar
de larvas e mosquitos
a terra dos benditos.

Vou entoar
o canto dos proscritos,
o conto do “ninguém”.

E quando regressar,
vou pegar
no bocado que resta
da minha indiferença.

Vou colocá-la
na presença
de histórias do passado,
de sonhos do que vem.

………………………………….

Até que uma criança
de olhar triste
passa por mim
e sorri.

Ai de mim
que não aguentei.

Ó sorriso
que desfazes
meus esquemas
e promessas.

Ó presença
que abalas
o bocado que resta
da minha indiferença.

Olhei de riso triste
a multidão
que a seguia,
sem fúria
nem revolta
nem lamúria
nem escolta.

E segui-a.

 

Assinatura do autor Manuel Paulo