Porque hoje é sábado
e amanhã é a Páscoa,
parei a pensar o que hoje pensei.
E daqui te lanço o desafio.
Até já.
Eis-me aqui,
porque hoje é sábado
nos instantes do presente
onde o passado se termina
e o futuro começa,
parado para pensar.
E é daqui, deste espaço único
que cabe na tua mão fechada,
entre o hemisfério visível e o invisível,
que te lanço o desafio.
Define com palavras simples, mastigadas,
sem farsas, nem disfarces, nem rodeios
o que é, para ti, felicidade.
Ousa contar sobre tudo a ti, mas se quiseres
também a mim, a quem te olha,
a quem te toca e a quem te sente,
os instantes em que provaste
o ser feliz.
Vamos a isto
que hoje é minha vez.
Lá pelos três,
ao volante do meu carro de brincar,
lembro o adeus sobranceiro e importante
a essa gente grande,
tão imponente na minha pequenez.
Quanto gostei de mim nesse Natal,
lá pelo seis, em que fiz de S. José.
Peça ensaiada, aos soluços decorada,
com deixas ditadas por um ponto
escondido num caixote de cartão.
Os fogos fátuos, para mim reais,
que via da janela do meu quarto,
lá pelos sete,
apagados como por magia
quando a minha Mãe a porta abria.
O silêncio seguinte a um trovão
que lançou no chão a loiça estilhaçada,
com minha gente muito além do grande monte
e eu desamparado, no colégio interno
onde aprendi, lá pelos dez, a ser alguém.
A descoberta do amor à liberdade
lá pelos quinze,
afagado na ternura dessa gente
que é firme mas serena
e que pára sem pressas, para falar.
E os primeiros versos que escrevi,
lá por aí,
letras sonhadas, sofridas, transpiradas,
escritas a lápis na parede branca
desse quarto, coitado, mas só meu.
E quando, na busca do que sou,
sem saber para que sirvo e para onde vou,
lá pelos vinte,
ao caminhar sem rumo eu tropecei em Deus.
Que Veio para ficar e que Ficou.
E o sabor agreste daquele primeiro afeto
com trago amargo a fruto que é silvestre,
e o amor partilha, fiel e enlaçado
que percorreu tantos instantes do presente
o último acontecido ainda esta manhã.
E tanto que fica por contar
neste instante entre o visível e o invisível
onde o passado se termina
e o futuro começa.
Mas calo aqui
que agora é a tua vez.
Até já.