Manuel

Florbela Espanca

Amar

Eu quero amar, amar perdidamente! 

Amar só por amar: aqui… além… 

Mais este e aquele, o outro e a toda gente… 

Amar! Amar! E não amar ninguém!

 

Recordar? Esquecer? Indiferente!… 

Prender ou desprender?

É mal? É bem? 

Quem disse que se pode amar alguém 

Durante a vida inteira é porque mente! 

 

Há uma primavera em cada vida: 

É preciso cantá-la assim florida, 

Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar. 

 

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada 

Que seja a minha noite uma alvorada, 

Que eu saiba me perder… para me encontrar…

Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa em 1894 e faleceu em Matosinhos em 08 de dezembro de 1930. Batizada como Flor Bela Lobo, opta por se autonomear Florbela d’Alma da Conceição Espanca. 
Com uma vida de apenas 36 anos, converteu os seus tumultos e inquietações interiores em poesia, carregada de erotismo, feminilidade e panteísmo.
Seu pai, João Maria Espanca, com o acordo da mulher que era estéril, manteve uma relação com a camponesa Antónia da Conceição Lobo,  criada de servir. Dela nasceu Florbela, nascida de pai incógnito, que só reconheceu a sua filiação em cartório 18 anos após a sua morte.
Entre 1889 e 1908, Florbela Espanca frequentou a escola primária em Vila Viçosa, passando a assinar os seus textos como Flor d’Alma da Conceição. As suas primeiras composições poéticas datam dos anos 1903 e 1904. Ingressou então no Liceu Nacional de Évora, onde permaneceu até 1912. Foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar um curso liceal. Leu obras de Balzac, Dumas, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, Garrett, recolhidos sobretudo ma Biblioteca Pública de Évora. Em 1913 casou-se em Évora com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola. Foi jornalista em Modas & Bordados num suplemento de O Século.
Em 1919, saiu a sua primeira obra, Livro de Mágoas, um livro de sonetos. A tiragem (duzentos exemplares) esgotou-se rapidamente. O Livro de Soror Saudade publicado em 1923 foi a sua segunda coletânea de poemas. Em 1930 começou a escrever o seu Diário do Último Ano, só publicado em 1981. Os abalos devastadores provocados com o divórcio do seu segundo ex-marido, António Guimarães e em particular, a trágica morte de seu irmão de 30 anos, Apeles Espanca, num trágico acidente de aviação, estiveram na origem das suas tentativas de suicídio em 1928 e 1930. 

Diagnosticada com um edema pulmonar, não resistiu à terceira. Faleceu em Matosinhos, no dia do seu 36.º aniversário, a 8 de dezembro de 1930. A causa da morte foi uma “overdose” de barbitúricos. 

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