Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Excertos da biografia de Carlos Drummond retirados do texto inscrito por Dilva Frazão em https://www.ebiografia.com/carlos_drummond/
Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) foi um dos maiores poetas brasileiros do século XX. Foi também cronista e contista, mas foi na poesia que mais se destacou. Foi o poeta que melhor representou o espírito da Segunda Geração Modernista com uma poesia de questionamento em torno da existência humana.
Infância e formação
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Era filho dos proprietários rurais, Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade. Iniciou seus estudos em sua cidade natal e em 1916, ingressou em um colégio interno em Belo Horizonte. Doente, regressou para Itabira, onde passou a ter aulas particulares.
Em 1918, Drummond foi estudar em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, também em colégio interno, mas foi expulso por “insubordinação mental”.
De volta para Belo Horizonte, em 1921, começou a publicar artigos no Diário de Minas que reunia adeptos do Movimento Modernista Mineiro. Em 1922, ganhou um prêmio de 50 mil réis, no “Concurso da Novela Mineira”, com o conto Joaquim do Telhado.
Em 1923, por insistência de sua família, Drummond matriculou-se no curso de Farmácia da Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte. Em 1925 concluiu o curso, mas nunca exerceu a profissão. Nesse mesmo ano, fundou A Revista, que se tornou um veículo de afirmação do Modernismo Mineiro.
O poeta Drummond
Em 1928, Drummond publicou o poema No Meio do Caminho, na “Revista de Antropofagia” de São Paulo, provocando um escândalo com a crítica da imprensa. Diziam que aquilo não era poesia e sim uma provocação pela repetição do poema, como também pelo uso de “tinha uma pedra” em lugar de “havia uma pedra”:
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Em 1930, dentro das diretrizes da Segunda Geração Modernista, Drummond publicou seu primeiro livro intitulado Alguma Poesia, no qual retrata a vida cotidiana, as paisagens, as lembranças, com certo pessimismo, deixando transparecer sua ironia e humor.
Em 1934, Carlos Drummond lançou o seu segundo livro Brejo das Almas, quando o poeta abandona o descritivismo e acentua o humor e a ironia nos seus versos. Em 1940, Drummond publicou Sentimento do Mundo, quando se coloca solidário com os homens. A destruição provocada pela Guerra Mundial, o levou a expressar um desejo intenso de reconstruir o mundo.
Em 1942, ano em que o Brasil entrou na Segunda Guerra, ele publicou o livro José, que inclui o poema do mesmo nome, mostrando a figura anônima de um personagem que vive em um contexto burocrático.
Em 1945, Drummond publicou o livro de poemas A Rosa do Povo que condena a vida mecanizada e desumana de seus dias e espelha uma carência de um mundo certo pautado na justiça que venha substituir a falta de solidariedade de seu momento.
A poesia de caráter social assume nova dimensão e seus temas preferidos são: a angústia dos seres escravos do progresso, o medo, o tédio e a solidão do homem moderno.
Com a publicação de Claro Enigma (1951) a criação poética de Drummond segue duas orientações: de um lado a poesia reflexiva, filosófica e metafísica, na qual aparecem com frequência os temas da morte e do tempo e, de outro lado, a poesia nominal, com tendências ao Concretismo, em que ressalta a preocupação com recursos fônicos, visuais e gráficos do texto.
Também fazem parte dessa orientação os livros: Fazendeiro do Ar (1955) e Vida Passada a Limpo.
Em Lição de Coisas (1962), o poeta é tomado pela poesia nominal, muito próxima da filosófica, em cuja linguagem o verso e a palavra são desintegrados com o uso constante de neologismos, alienações e rupturas sintáticas que se aproximam do Concretismo, embora o poeta não tenha admitido. Os versos a seguir mostram essa orientação:
O árvore a mar
o doce de pássaro
a passa de pêsame
o cio da poesia
a força do destinoA pátria a saciedade
o cudelume Ulalume
o zumzum de Zeus
o bômbix
o ptys
A produção poética de Drummond nas décadas de 70 e 80 dão um amplo destaque ao universo da memória, quando são representadas por temas universais e temas que nortearam toda sua obra, como a infância, Itabira, o pai, a família etc. É o que se observa nas obras Menino Antigo, As Impurezas do Branco, Amor Amores, Corpo, A Paixão Medida e outras.
Características da Obra de Drummond
Poeta da Segunda Geração Modernista, a maior figura da “Geração de 30”, embora tenha escrito ótimos contos e crônicas, Carlos Drummond se destacou como poeta.
A poesia da Segunda Geração Modernista foi essencialmente uma poesia de questionamento em torno da existência humana, do sentimento de estar no mundo, das inquietações sociais, religiosa, filosófica e amorosa e, Drummond é o poeta que melhor representa essa geração.
Seu estilo poético é permeado por traços de ironia, observações do cotidiano, de pessimismo diante da vida e de humor. Drummond fazia verdadeiros “retratos existenciais” e os transformava em poemas com incrível maestria.