Manuel

Sophia de Mello Breyner Andersen

O MAR DOS MEUS OLHOS
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens…
Há mulheres que são maré em noites de tardes…
e calma

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de novembro de 1919 no Porto. De origem dinamarquesa por seu avô Jan Andresen, seu pai João Henriqe Andresen comprou em 1895 a Quinta do Campo Alegre, nome mudado mais tarde para Jardim Botânico. Iniciou os estudos do Colégio Sagrado Coração de Jesus, no Porto. Educada nos valores tradicionais cristãos, integrou ativamente movimentos católicos contestatários ao regime salazarista enquanto frequentava, entre 1936 e 1939 o curso de Filologia Clássica da Universidade de Lisboa. Após o 25 de Abril foi eleita deputada à Assembleia Constituinte. Ficou conhecida pela sua “Cantata da Paz”, conjunto de canções de intervenção que incluíam a conhecida ” Vemos, Ouvimos e Lemos”. Foi a lembrança da sua infância e juventude, a importância das casas onde as viveu, que maior influência exerceu na sua obra. O contacto com a natureza e também o mar marcaram profundamente a sua poesia, como o expressam os poemas “Homens à beira-mar” ou “Mulheres à beira-mar”, “Mar”, “Inicial e “Praia”. A sua paixão pela antiguidade clássica deixa também marcas na sua poesia. Leiam-se as suas referências à civilização grega que transparecem em poemas como “O Rei de Itaca”, “O Nome das Coisas”, “Os Gregos” e “O Exílio”. Quanto ao seu estilo de linguagem refere-se aqui o que Eduardo Lourenço afirma: Sophia de Mello Breyner tem uma sabedoria “mais funda do que o simples saber“, que o seu conhecimento íntimo é imenso e a sua reflexão, por mais profunda que seja, está exposta numa simplicidade original.   

Faleceu em Lisboa a 02 de julho de 2004. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões em 1999.

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